quinta-feira, 19 de abril de 2012

A LIBERDADE TEM PREÇO



Liberdade... O que não fazemos para alcançar esta caprichosa dama?  
Ah traiçoeiro sonho que rasga as nossas roupas ao adentrarmos a sua sala de espera!
Inebriante poção mágica que nos envenena!
Despe, cospe , amassa, mói até alcançarmos a pureza!
Pagamos um preço tão alto por desejarmos ser livres!
“Cuidado com o que deseja, pois poderá ser atendida”.
E agora o que você vai fazer com isso?
Por tantas vezes temos que lidar com as nossas compulsões.
Entrar na vida adulta, ter que enfrentar os nossos demônios.
Não é fácil lidar com as nossas frustrações.
Trocamos a liberdade por casamentos que são refúgios perfeitos!
Doce gaiola dourada, grilhões, ilusões, sedução!
Segurança e cuidado. Aprovação e aceitação.
Pensamos ter achado as chaves do paraíso.
Somos capazes de nos satisfazer como mães e esposas.
Precisamos significar a perfeição neste cuidado familiar. 
Porém esta é apenas uma faceta da existência.
E os anseios por mudar o mundo, ser independente, moderna e forte?
Não dá para ser feliz sendo fração!
“Ou você é feliz ou é bom” , diz o Zen Budismo.
Já ouvi de um homem que não tenho inteligência emocional. 
Jamais coube na moldura social que escolheram para mim.
Os homens de um modo geral temem as mulheres que os desafiam. 
É difícil lidar com a sua imagem gêmea refletida no espelho. 
Mulheres independentes são ruidosas e espaçosas.
O custo extorsivo desta “paz”, de manter este status de “pertencer” a alguém é se deixar algemar pelas poderosas mãos que afagam e ferem.
Brincar de ser exímia cozinheira, amante tântrica, decoradora, chefe de obras, psicóloga, mulherzinha, bibelô e até boneca inflável!
Abandonar-se, confundir seus projetos, adotar a identidade do outro, passar a ser sua extensão simbiótica. 
Facear a traição, a humilhação, o assédio moral, a mesquinharia financeira e emocional.
A cultura machista desqualifica e coisifica a mulher. 
São controladoras e manipuladoras no subterrâneo. 
À luz do dia são submissas como gueixas, servis imolam-se, aniquilam-se por seus maridos e filhos.
Libertação só às duras penas, debaixo de fogo cruzado. 
A dor é só minha!
Não há alguém para compartilhar. 
Na luta pela liberdade corri com os lobos, fui gladiadora.
Foi um longo caminho de volta para mim.
Sou dona do meu nariz, não devo satisfações a ninguém,
Porém como Atlas, carrego o mundo nas costas...
Por vezes este excesso de liberdade me sufoca... 
A solidão dói e me rói.
A busca contínua por partilhar doces delícias, sonhos, angústias e dívidas. 
Amor, amizade e respeito são inegociáveis!
As malditas cicatrizes abrem as feridas e expõem a carne viva.
Conquistei o meu lugar no mundo, vasto mundo. 
Sou eu mesma minha senhora.
Respeito a minha própria imagem refletida no espelho. 
Procuro que o convívio comigo mesma se torne ao menos suportável. 
Mereço meu nome, mas a solidão, essa traiçoeira, teima em me rondar. 
A liberdade contempla a solidão.
O trabalho instiga-me e identifica-me na multidão. 
Não tenho uma rotina rígida.
Há muito espaço para o imprevisível. 
Invento os meus roteiros. 
A paixão permeia os meus dias
Acabei de romper com alguns dos meus maiores sabotadores internos:
Cometi a “heresia” de criar meu próprio Blog de poesias. 
Escrever poesia? Quem diria?
Eu posso, faço e gozo!
Pago impostos, pago os meus pecados, pago mico, pago caro!
Sou dona do meu destino!
!Pero, sin perder la ternura jamás!

Nathalia Leão Garcia
Rio, 16 de abril de 2012 







9 comentários:

  1. Natália poeta
    lúcida densa
    mulher atrevida
    verve amorosa

    Ferve em Natália
    a febre da vida

    Cristiano Menezes

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    1. Cristiano, cunhado querido
      Sensibilidade e doçura.
      Agradeço emocionada
      Seu olhar de benção
      À você meu carinho incontido.
      Beijo...

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  2. Nathalia,
    gosto do verbo que desafia, pois o mesmo afia meus próprios verbos, proverbialmente livres, labialmente indomáveis. Mas amáveis também sabem ser. E é sendo que se é. Que peguem em minha mão, mas não o façam no meu pé. No exemplo das mulheres de Atenas ninguém se mire, mas não se admire se alguém o fizer. Prisioneiros da liberdade? Mas que maldade, será que há cristão que tenha saudade da restrição. Talvez, aqueles que não são e nem se apercebem. Multidões se arrastam e concebem os grilhões. Por milhões de motivos, que as desmotivam. Se me propuserem o paraíso, eu digo: para isso...não!
    O gozo é a recompensa de quem pensa e faz.
    A solidão é a eventual companheira. Mas, dessa maneira, será sempre fugaz.
    Fugas não solucionam, antes sancionam os que se evadem de si mesmos e saem a esmo em busca de algemas, correndo como emas pelos jardins da mesmice.
    Sim, você é dona do seu destino. Entoe isso como um hino e siga domando seus medos.
    Sem perder a ternura, nem a loucura de ser tão peculiar.
    Abraço carinhoso.

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    1. Hélcio, amigo poeta.
      Tudo tem frente e verso.
      Mesmo o perverso traz em si o solidário!
      O reprimido se faz indomável.
      O insano carrega o lúcido.
      Da loucura irrefreável se chega à cura.
      Pela procura se chega ao fim.
      Um lado contempla o outro.
      Metade de mim é um vulcão
      E a outra metade é doce canção.
      Eu me perdi pra me achar!
      Beijo agradecido!

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  3. Seus nomes são Popocatepetl, Eyjafjallajokull, Etna ou Nathalia...
    Mas os três primeiros não são capazes de nos brindar com suas reflexões e percepções.
    Que Nathalia continue em erupção - e escrevendo!
    Beijos, Luiz

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    1. Luiz,
      Amigo e inspiração.
      Sua mente brilhante.
      A palavra instigante.
      Sou vulcão adormecido
      Que derrama suas lavas
      Quasar de luz pulsante!

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  4. Cristiano, cunhado querido
    Sensibilidade e doçura.
    Agradeço emocionada
    Seu olhar de benção
    À você meu carinho incontido.
    Beijo...

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  5. Um dos textos mais lindos que já li em minha vida!
    Visceral, raçudo, irretocável!
    Não há o que mexer, pois ele é único, santo, solto, como uma folha que se desprende da árvore e toca a superfície do mundo, quando o alarido da vida não deixa dúvida no ar e nos presenteia com os melhores sabores da existência. Você é única e suas lavas de amor nos incandesce, deixando o terreno minado, perigoso e imprevisível. Beijos! Parabéns!

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    1. Amor,
      Este texto nasceu da inquietude que me queima as entranhas.
      Procuro a palavra que povoe os seus mistérios.
      Ofereço-me aos prazeres mais delirantes.
      Desfolho-me e tateio os tecidos mais delicados.
      De que são feitas as tramas e as manhas.
      Quero que meus uivos insanos,
      Provoquem terremotos.
      Derrubem muros.
      Levantem os mortos.
      Quero espalhar meu canto,
      Que pulsa como quasar.

      Quase que por um instante.
      Única e sua!
      Úmida e nua!
      Meus moinhos movem águas profundas.
      As águas revoltas que me fazem atrevida.
      São as mesmas águas que me acalmam e purificam.
      A poesia nos une e nos eterniza!
      Adoro amar você!

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Namastê!

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